Documento da ONU mostra que crescimento
da população caminha rápido com a necessidade de enfrentar os graves
problemas da falta ligação entre vizinhos
A análise do crescimento populacional e dos efeitos dele para centenas de cidades ao redor do mundo está no documento, ainda parcial, State of the World´s Cities (2012-2013), produzido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e disponível no site da instituição mundial.
Trabalhadores pagam pela ausência de integração
São 17 horas de sexta-feira e centenas de trabalhadores moradores de Cambé, Jataizinho, Ibiporã, Rolândia se aglomeram sem espaço nos pontos de ônibus sujos e sem manutenção na Avenida Leste-Oeste, lado de fora do terminal de transporte coletivo de Londrina, centro.Composta por 11 municípios, as fronteiras da Região Metropolitana de Londrina geralmente só desaparecem ante à falta de planejamento e ações concretas. A Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), afundada em problemas, não consegue capitanear o debate.
A doméstica Raquel Amaral, 47, mora em Jataizinho e faz as contas: “são R$ 2,80 para chegar em Londrina. Depois, mais R$ 2,20 para chegar no meu trabalho perto do Lago Igapó. Na volta, é o mesmo gasto para ir embora”. Resultado: por dia, a doméstica entrega R$ 10 para empresas de transporte coletivo cujos sistemas não “conversam” entre si. “Ainda bem que é a patroa que paga. Se fosse do meu salário, não teria como”, lamenta. Com R$ 200 em transporte, “fica mais difícil pedir aumento”, concorda ela.
Desde 1975, o operário José Barbosa, 56, constrói casas e prédios para os londrinenses. Enquanto faz crescer a arrecadação de IPTU de Londrina, é punido com a ausência de integração do transporte metropolitano: “No dia de chuva, ficamos no relento enquanto tem um terminal inteiro na nossa frente sem a gente poder usar”, lamenta ele, após deixar a zona leste e atravessar a rua para sair do terminal de Londrina até o ponto dos coletivos para Cambé - gasto de mais R$ 2,60. “Será que os prefeitos não se conhecem? Ninguém conversa sobre isso?”, questiona, em tom de indignação.
Iniciativas ainda são isoladas
Ao longo dos anos, a RML convive apenas com iniciativas pontuais de integração. O controle regional de leitos hospitalares de UTI, que permite a um londrinense ser internado em Cambé ou Ibiporã em caso de falta de vagas locais, é uma delas – mas pára por aí. No campo da segurança, por exemplo, Londrina, Rolândia, Arapongas, Apucarana, Cambé, Tamarana, Sertanópolis, Bela Vista e Jataizinho formaram, três anos atrás, o Consórcio de Segurança Pública e Cidadania da Região Metropolitana (Cismel). No papel, seria um Gabinete de Gestão Integrada da segurança entre as cidades. As ações, no entanto, resumiram-se à aquisição de equipamentos e câmeras de vigilância com dinheiro do governo federal. Desde 2008 está criada a Coordenação da Região Metropolitana de Londrina (Comel) para gestão regional. O órgão é acanhado em estrutura, orçamento e poder político em comparação com a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), historicamente privilegiada por sucessivos governos do Paraná, a quem se subordina. Sem funcionários suficientes e dinheiro, a Comel tenta, nos últimos dois anos, entabular discussões sobre a integração do tratamento de resíduos e do transporte público. “A dificuldade de dialogar no meio desse turbilhão político em Londrina atrapalha muito. Como Londrina lidera as cidades, a aposta é que o fim da instabilidade política permita evoluir melhor os temas de interesse da RML”, justifica Vitor Hugo Dantas, coordenador da Comel. “Precisamos superar esse cenário porque existe muito a ser feito”.Em 152 páginas, o documento da ONU descreve uma vasta quantidade de problemas e de rarefeitas soluções em curso nas cidades do planeta onde as consequências do movimento do dinheiro, dos transportes, da busca pelo atendimento médico, os efeitos da crise ambiental e do trânsito das populações ocorre em ritmo bem maior do que a integração geralmente “de papel” entabulada pelo governos.
Com taxas de crescimento populacional maiores que as de regiões como Campinas e Santos e até mesmo mais altas que as de capitais como Belo Horizonte, Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, Londrina e a região metropolitana terão saltado - em 35 anos (1990-2025) - de 491 mil habitantes para 944 mil - aumento demográfico de 92,2%. No mesmo período, as populosas regiões metropolitanas do Rio (12,6 milhões em 2025) e São Paulo (21,6 milhões) crescem menos: a 31,8% e 46,5%, respectivamente.
“As cidades se expandem de forma descontínua, dispersa, de forma inconsistente e sem sustentabilidade”, aponta o relatório da ONU. “Uma característica das cidades em desenvolvimento no mundo é a expansão baseada em limites administrativos formais, largamente impulsionada pelo uso de automóveis e pela especulação imobiliária”, registra o documento, emoldurando o cenário que também é o retrato de Londrina e região.
“É uma crise de acesso dos moradores às cidades”, constata o professor Flávio José Nery Malta, pesquisador de sustentabilidade urbana e ambiental e consultor da ONU responsável por abastecer o documento com dados sobre o Brasil. “Cada prefeito consegue, no máximo, olhar a própria realidade”, atesta, para quem a inexistência de um diálogo concreto entre prefeitos e estruturas governamentais “é cultural e histórica”. Segundo o pesquisador, cidades como Londrina “estão apenas no começo” da tarefa de trazer à luz a integração urbana.
Jornal de londrina
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